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  • Foto do escritorLuiza Marques

Brexit cria insegurança no Reino Unido e estrangeiros pensam em deixar o país

Cidadãos com nacionalidade europeia temem perder empregos com a saída do Reino Unido do bloco europeu e se sentem ameaçados pelo crescimento da xenofobia



Também publicada em Olhares Pelo Mundo.


O temor de que a saída do Reino Unido da União Europeia (Brexit) afete a vida de estrangeiros tem levado muitos imigrantes a deixar o país. “ A sensação vivida por muitos é de alerta em relação ao que pode acontecer”, diz o correspondente da TV Record em Londres, André Felipe. “Muita decepção e angústia sobre o futuro. Os crimes de ódio também aumentaram contra estrangeiros. A sensação é de que o Reino Unido fechou as portas para quem se sentia bem-vindo”, disse o repórter em entrevista a "Olhares do Mundo".


Uma pesquisa realizada em 2016 pelo Instituto Nacional de Estatísticas (ONS) de Londres mostrou que, mesmo antes da votação do Brexit, cerca de 117.000 cidadãos da UE deixaram o Reino Unido naquele ano, 31.000 a mais que em 2015, a maior estimativa registrada desde 2009.


A brasileira, Marcela Fernandes, 34, mora há quatro meses em Londres e afirma que, caso seja necessário, também deixará o país, mesmo não sendo de sua vontade. “Meu maior medo é que quem possui passaporte da União Europeia, como eu, precise sair às pressas”, comenta.


A preocupação dos imigrantes aumenta a cada dia porque o governo britânico ainda não se pronunciou em relação à permanência de cidadãos da União Europeia no país. O problema afeta mais aqueles que moram no Reino Unidos há pouco tempo.


A advogada brasileira Vitória Nabas, especialista em imigração com escritório em Londres, explica que, se o estrangeiro já morar no Reino Unido por cinco anos pagando impostos (ou dentro de uma de outras categorias do Tratado de Roma), poderá pedir a residência permanente e, após um ano, a cidadania britânica, sem se preocupar com o Brexit. Mas aqueles que ainda não completaram cinco anos, devem fazer seu “Registration Certificate” para ter o registro inicial. “Os europeus, agora se veem numa posição que nunca haviam sentido antes. Porém, quem está fazendo tudo o que o tratado de Roma prevê, não tem o que temer. Não acredito que alguém seja convidado a se retirar”, diz a advogada.


Além da insegurança jurídica, os estrangeiros temem o crescimento da xenofobia, principalmente depois dos recentes ataques terroristas no país, que levaram a novas restrições imigratórias. De acordo com um relatório da Polícia britânica, os crimes de ódio aumentaram 30,2% após a votação do Brexit.


“[Estrangeiros] acabaram sendo objeto de ataques por aqueles com posições anti-imigração, ou por problemas pontuais, como a utilização de forma errada dos benefícios sociais oferecidos”, afirma o repórter da BBC News Hugo Bachega. “Os ataques são usados por muitos como uma justificativa para maiores controles imigratórios - apesar de a maioria dos autores dos ataques na Inglaterra ser britânica”.


Segundo o repórter da BBC, muitos imigrantes se ressentem porque as contribuições que deram e dão ao país não são devidamente reconhecidas. Segundo a Organização Internacional de Migração (OIM), os imigrantes ocupam 13,20% da população total de residentes do país e são ativos na economia local.


O cientista político e professor de Teoria Política da Universidade de Cambridge, John Dunn, salienta que a Grã-Bretanha ganhou muito mais do que perdeu ao participar da União Europeia e sua saída do bloco terá repercussão econômica, inclusive do ponto de vista de perda de trabalhadores. “Penso que certamente causará danos muito graves à economia, à facilidade cultural e ao padrão de vida da grande maioria da população, especialmente entre os que provavelmente votaram a favor do Brexit”, afirmou Dunn em entrevista por e-mail.


Nabas explica que a saída dos imigrantes, que atualmente representam 11% da mão de obra do país, pode afetar diretamente a economia britânica, visto que o emprego no Reino Unido é suprido pelo trabalho estrangeiro. “Já é possível ver um certo pânico e incertezas de alguns empregadores que preferem não contratar imigrantes, uma vez que não sabem o que ocorrerá no futuro”, afirma.


O impacto econômico é um dos pontos de maior crítica por parte dos que não querem a saída do bloco. Em um relatório realizado pela British Retail Consortium (BRC), órgão de pesquisa do setor industrial britânico, 56% dos industriais e varejistas afirmam ter preocupações de que seus colegas da União Europeia percam o direito de viver no Reino Unido.


Para Bachega, o impacto causado pela incerteza do Brexit já pode ser sentido no país; a cotação da moeda nacional, a libra esterlina, tem sofrido variações e perda de valor para o dólar americano e para o Euro, e isso causa um aumento de custos para os britânicos, além de inflação e redução de investimentos. “Além disso, se empresas e instituições forem forçadas a relocar, mesmo que parcialmente, suas estruturas para a Europa, haverá não só fuga de investimento, mas de empregos”, acrescenta.


A britânica Valeria Cavellucci, de 48 anos, foi uma das que votou pela permanência do país na União Européia e já está sentindo as alterações. Casada com um italiano, ela diz que o Brexit afetou não só os estrangeiros, levando-os a sair, como também muitos britânicos que se sentem traídos pelas decisões do governo. “O clima de pessimismo é geral”, disse em entrevista. “Com o Brexit aconteceram muitos cortes na área social, e já ouvi falar que vai piorar. Nesse caso me afeta porque tenho um filho autista e estão diminuindo muito os benefícios que tenho para ele, não necessariamente financeiro, mas apoio na escola, etc.”


Matéria produzida em 2017 por Ana Clara Borges, Júlia Melo, Luiza Marques, Rebecca Ribeiro


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