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A gourmetização da comida de rua

A vida atarefada da população nas cidades cria um novo mercado de investimento



Butantan Food Park: um dos mais visitados espaços de food trucks de São Paulo.

(Foto: Luiza Marques)


Por Luiza Marques e Rebecca Ribeiro


A correria e a vida agitada das grandes cidades, têm obrigado os cidadãos a buscarem alternativas mais rápidas e acessíveis para as tarefas do dia a dia. A falta de tempo e espaço para as coisas simples como o almoço, abriram um novo e promissor mercado que a cada dia tem atraído mais gente. Os food trucks (termo em inglês para caminhão de comida) como são chamados, se tornaram uma alternativa viável para as pessoas que buscam praticidade e inovação em suas refeições.


Sendo praticamente restaurantes sobre rodas, e com a facilidade em alcançar o público em vários lugares transformou os food trucks em um negócio rentável, e uma possibilidade de investimento para aqueles que querem começar um restaurante, porém desejam evitar burocracias.


Somando a agilidade de estar em qualquer lugar e ser um atrativo para refeições rápidas, o uso das mídias sociais para a divulgação tem ajudado também no alcance de variados público e em diversas faixas etárias. Isso fez com que se tornasse um negócio atrativo e com um retorno rápido.


Uma nova forma de empreendedorismo nas ruas


Como envolve pouca burocracia, o food truck se tornou uma forma mais fácil para quem deseja abrir um negócio no ramo alimentício. Apesar da crise econômica este ramo é pouco afetado, como relata o dono do 162 Burguer Truck Marcelo Alvarenga. "A crise afeta bem menos quem vende a comida, quem compra o preço fica um pouco mais salgado, mas pra quem vende tem sempre gente que compra."


O investimento inicial para se abrir um food truck varia entre R$ 20 mil à R$ 300 mil, o que no começo para muitos parece ser um valor alto, mas que costuma ser bem mais econômico que abrir uma franquia ou restaurante próprio. Como não é fixo, as questões de aluguel de imóvel e impostos são inexistentes.


De acordo com o professor e contador, Alexandre Akira, o investimento parece ser bom já que ele tem conhecimento de pessoas que largaram seus empregos e tiveram o retorno em food truck relativamente rápido. Esses fatores fazem com que, por exemplo, chefes renomados desistam de restaurantes e mudem seus negócios para restaurantes sobre rodas, em busca de mais liberdade criativa e espaço.


O antigo vendedor de softwares, Marcos Miyake, entrou nesse ramo em outubro de 2014 ao querer sair do cargo de funcionário para ter seu próprio negócio. Após pensar qual seria sua melhor opção, optou pelo ramo dos food trucks, por continuar em evidência no mercado, e sua escolha foi voltada para a culinária japonesa. "Eu pensei em várias coisas, mas era algo que eu queria fazer relacionado à comida mesmo".


Ao ser perguntado se essa mudança de ramo foi um bom investimento, Marcos afirma estar tendo um retorno financeiro conforme o planejado e que, apesar disso, não depende totalmente desse serviço, por enquanto. “Está dentro do meu esperado, do meu cronograma. Mas eu não vivo disso, tenho outras formas de renda”.


Para Alexandre, dono do The Originals, o investimento no setor dos food trucks está sendo positivo, já que a crise econômica afeta menos área de alimentos. “Além do truck, eu tenho uma vidraçaria junto com a minha esposa. Enquanto ela está lá, eu estou trabalhando aqui no truck. Acredito estar tendo um retorno bom pelo que vejo da crise que o comércio está enfrentando”, diz.


É percebível os efeitos da crise econômica ao ver que o brasileiro está comprando menos, a exemplo das vendas para o Dia das Mães, e parcelando o que ainda compra em poucas ou nenhuma parcela, devido à, principalmente, os juros.


Um local apenas para food trucks


Mesmo com uma grande mobilidade, os food trucks necessitam de local apropriado para estacionar e comercializar seus alimentos em vias e áreas públicas. Com isso a lei 15.947/2013, sancionada em dezembro de 2013 pelo atual prefeito Fernando Haddad (PT), permite essa comercialização tanto em furgões, como em carrinhos e barracas desmontáveis.


Antes da lei, a prefeitura poderia aprender barracas ou carrinhos de comida que não tinham um alvará de liberação. O projeto foi de autoria dos vereadores Andre Matarazzo (PSDB), Arselino Tatto (PT), Floriano Pesaro (PSDB), Marco Aurélio Cunha (PSD) e Ricardo Nunes (PMDB), inspirados pela história de Rolando Vanucci, considerado um dos pioneiros de food truck.


Este, conhecido como Rolando Massinha, iniciou neste ramo com apenas uma kombi e hoje possui quase oito food trucks, um livro e em breve lançará franquias. "Dei uma repaginada na comida de rua. Trouxe uma cantina italiana pra rua", diz Vanucci.


E agora com a lei, existem espaços apropriados para receberem os food trucks, tais como Butantan Food Park, localizado no bairro do Butantã, e que recebe diariamente diversos trucks com a mais variada culinária, e agora recentemente abriu um espaço no centro de São Paulo chamado Calçadão Urbanoide, que se encontra na Rua Augusta, um dos pontos de referência de São Paulo. Esses espaços apropriados são conhecidos como Feiras Gastronômicas e tem estado presentes em muitos bairros da capital paulistana, tais como Perdizes, Vila Madalena, Bom Retiro, Morumbi, Tatuapé, além dos citados acima.


Uma moda bem antiga


Quem pensa que a moda do food truck é algo recente se engana. Os food trucks tem sua origem nos Estados Unidos, o primeiro que se tem notícia foi criado em 1866, quando um cidadão americano Charles Goodnight viu a dificuldade dos cowboys no estado do Texas de se alimentarem, ele então teve a ideia de adaptar um antigo caminhão militar para levar comida a esses cowboys. Anos depois em 1872, na cidade de Providence, um homem chamado Walter Scott, já vendia tortinhas e salgados para trabalhadores de fábricas que precisavam de comida barata e rápida.


Na década de 90, os food trucks se tornaram uma sensação nas cidades americanas, como Nova Iorque e Chicago com barraquinhas de cachorro-quente, nos grandes centros. Desde de 2009, essa moda tem ganhado espaço nas cidades do Brasil como São Paulo, e ultimamente se tornou sensação ao servir diversos pratos que antes só se servia em restaurantes. E ganhando espaço até em canais de televisão com reality shows sobre food trucks.


A importância das mídias sociais para o negócio


Um dos maiores meios de divulgação utilizado pelos donos dos food trucks são as redes sociais. Lá eles colocam onde estão e isso ajuda os clientes a localizarem os chefes e seus trucks, além de auxiliar na expansão do próprio negócio. Assim, quem acompanha determinado truck de sua preferência sabe onde ele estará, quando e qual será o cardápio servido naquele dia.


E também com o uso das chamadas “fan pages” (páginas em que marcas e empresas usam para divulgar seus serviços), os donos dos food trucks atraem milhares de pessoas a fim de promoverem a sua marca, aproximando o cliente do chefe com postagens descontraídas e de fácil acesso ao público.


Opinião dos públicos em geral


Muitos quando perguntados sobre seus gostos por food trucks apresentam uma variedade de opiniões. Em pesquisa realizada com usuários de redes sociais, foi constado que o grande público atraído pelos food trucks é composto por mulheres: 69% das respostas no quesito sexo foram de mulheres, das mais variadas idades. Enquanto, apenas 31% das respostas foram de homens.


Ao comparar as faixas etárias, o maior número de pessoas frequentadoras de food trucks é composto por idades entre 18 a 24 anos, representando 54% dos entrevistados. O segundo maior público é de pessoas menores de 18 anos (23%). Percebe-se que é um modelo de negócio no qual o grande público-alvo são os jovens.


As culinárias servidas pelo grande número de food trucks presentes na Grande São Paulo são um dos atrativos para chamar o público. É possível encontrar de salgados à doces, de cozinha americana à cozinha japonesa. Lanches, dos mais variados tipos, são os preferidos pelos entrevistados, representando 26% do total. Os hambúrgueres, normalmente mais fáceis de serem encontrados no ramo dos food trucks, fica em segundo com 21% das respostas.


Por ser um fenômeno em crescimento, o número de locais em que podem ser encontrados está aumentando. O Butantan Food Park é o mais conhecido e visitado pelos entrevistados, representando 11% das respostas. Mais da metade das pessoas não frequenta nenhum tipo de Feira Gastronômica (51%), por ter acesso aos food trucks diretamente da rua, e não de um espaço com mais de um truck.


A maioria dos entrevistados afirma comer raramente em food trucks, sendo 49% do total. Em relação ao valor cobrado pelos pratos e porções, 43% das pessoas afirmam depender do que é servido. E para 30% apenas alguns valem a pena. Daí vem o que é denominado de “gourmetização” da comida de rua.


Matéria produzida em 2015.

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